100 MYTOS

2.23.2006

Ás vezes...





Ás vezes, em dias de luz perfeita e exacta

Ás vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.

Uma flôr acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm côr e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou ás coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!



Alberto Caeiro